terça-feira, 19 de abril de 2022

O DIA DO ÍNDIO E A ESCOLHA DA DATA DE COMEMORAÇÃO

 A data 19 de abril foi escolhida para a celebração do “Dia do Índio”, ou “Dia dos Povos Indígenas” porque foi nesse dia que delegados indígenas, representantes de várias etnias de países como o Chile e o México, reuniram-se, em 1940,no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Essa reunião tinha o propósito de discutir várias pautas a respeito da situação dos povos indígenas após séculos de colonização e da construção dos Estados Nacionais nas Américas.

No início do século XX, havia um interesse muito grande por essas etnias, especialmente com o desenvolvimento da Etnologia, isto é, o ramo da Antropologia que se dedica aos estudos das chamadas “culturas primitivas”. O esforço pela compreensão dos hábitos e da importância dos povos indígenas para história despertou a atenção também para as questões relacionadas às políticas públicas que visassem à salvaguarda desses hábitos e costumes, além de direitos e deveres.

O Primeiro Congresso Indigenista Interamericano serviu como agenda programática para essas políticas públicas. Uma das decisões tomadas foi a escolha do dia em que ocorreu o congresso como o Dia do Índio. A partir do ano seguinte, vários países do continente americano passaram a incluir em seus calendários o 19 de abril como dia de homenagem aos povos nativos ou indígenas.

            À parte dessas importantes conquistas, porém, seguem-se várias correntes paralelas, que tanto beneficiam, quanto causam malefícios às comunidades indígenas. Uma delas, que, em princípio, visava trazer somente benefícios, tornou-se também fontes de diversos problemas e choques culturais.

            Falo da aculturação, que é o processo da inclusão dos indígenas no ambiente cultural das nações onde eles residem. Desde os primeiros contatos com os chamados “civilizados”, os indígenas são seduzidos e atraídos com presentes, na tentativa de ganhar-lhes a amizade. Pouco a pouco essas seduções trazem os mais diversos resultados. Em pouco tempo, dependendo das habilidades do “sertanista” ou do antropólogo, toda uma tribo é pacificada e se torna “amigável”. Logicamente, essa “amizade” tem estreitíssimas relações com os presentes que recebem!

            Isso se não nos recordarmos das barbaridades e atrocidades cometidas pelos chamados “bandeirantes”, que dizimaram centenas de índios ao longo de suas “bandeiras” e “descobertas”. Na verdade, tribos inteiras foram aniquiladas nessas “conquistas”, tendo os sobreviventes que se submeter à condição de trabalhadores escravos. E a não poderem ter nenhuma reação pelas suas mulheres e filhas servirem aos apetites bestiais dos conquistadores. Suas aldeias foram queimadas e eles se reduziram a carregadores de mercadorias dos conquistadores.

            Muitas dessas tribos, compostas de povos valentes e outrora orgulhosos, se tornaram pequenas povoações, com algumas centenas de homens desonrados e domesticados, vivendo da caridade dos “civilizados”. Muitas de suas filhas se tornaram prostitutas, ou servem hoje de enfeites de “festas folclóricas”, que tem como objetivos mostrar o corpo semi nú das jovens indígenas, além de promoverem o chamado “turismo sexual”. E delimitar as suas áreas de ação, com as chamadas “reservas indígenas,  também nunca levaram a nada, pois eles não são mais nômades e não mais vivem da caça e pesca como os seus ancestrais.

            Mesmo a religião cristã, que deveria ser um bálsamo curativo para as feridas causadas pela “civilização”, pouco tem feito para mudar essa situação. O Catolicismo, desde o início da “descoberta” do Brasil, impingiu o Cristianismo pela força das armas e pela sedução dos presentes! Os “bandeirantes” sempre contaram com o apoio e a “bênção” do clero, especialmente dos “Jesuítas”! Festas religiosas e “missas” eram feitas em comemoração às conquistas sanguinárias dos “bandeirantes” e “descobridores”.

            Os índios eram “catequizados” e se viram obrigados a aceitar a nova religião e os seus ritos, com o abandono de seus rituais e costumes. Também foram obrigados a cobrirem a sua nudez com as roupas e trajes de seus conquistadores. E também tiveram que mudar os seus nomes indígenas. E assim surgiram índios “batizados” de Antônio, Maria, Conceição, João, José....etc! Assim como já tinham feito com os negros escravos, que foram obrigados a se “converterem” e a adotarem novos nomes de “batismo”, tais como Benedito, Benedita (em honra a São Benedito, o santo preto), Jacinto, Cosme, Damião...etc.

Quanto às missões evangélicas e protestantes (tanto as americanas quanto as nacionais), nunca escravizaram os indígenas e jamais se utilizaram das armas para impor a sua autoridade e comando. E nunca houve relatos de mortes de índios causados pelos missionários. Mesmo assim, muito se fala na mudança de cultura causada por essas missões. Especialmente na demonização de seus pajés e da “pajelança” e curandeirismo, bem como o abandono de seus deuses (muitas vezes com ameaças de condenação eterna) por Jeová e Jesus. Seus antigos cânticos também foram demonizados e proibidos pela nova religião. Os cânticos evangélicos foram traduzidos nos idiomas indígenas e substituíram os antigos.

Quando essas mudanças se dão voluntariamente, como fruto de ensino e pregação, pode ser aceito, tanto nos aldeamentos indígenas quanto nas cidades. Mas nada justifica a arbitrariedade e o abuso do poder econômico do “toma-lá-dá-cá”, que geralmente prevalecem em muitos casos de “conversão”!

Voltando aos “conquistadores” e “descobridores”, grandes cidades surgiram no rastro sangrento dessas “conquistas”, sendo São Paulo o maior exemplo, tanto a capital quanto o Estado. E assim os demais Estados do Brasil, especialmente Minas Gerais, Paraná, Goiás, Bahia e todos os Estados do Norte e Nordeste. Assim, as tribos dos Guaranís, Gês, Tapuias, Nuaruaques, Tupiniquins, Goitacazes, Cintas Largas, Parintintins, Manaós,Barés, e muitas outras, sofreram pesadíssimas baixas, e diversas se extinguiram.

            Segundo pesquisas do antropólogo Darcy Ribeiro, em cinco séculos, 700 das 1.200 nações indígenas foram exterminadas. 55 povos desapareceram somente na primeira metade do século 20. Na década de 1950, a população tinha caído para um número tão baixo que foi previsto que nenhum indígena sobreviveria até o ano de 1980.

            E hoje, muitas de nossas praças, ruas e avenidas, estão emporcalhadas com os nomes desses “bandeirantes”  assassinos, tais como Raposo Tavares, Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como     Anhangüera (diabo velho), Domingos Jorge Velho (Esse bandeirante, entre outras coisas, adentrou pelo nordeste brasileiro entre 1695 e 1697, destruindo aldeias indígenas no Maranhão e no Pernambuco, tornando centenas deles em seus escravos e carregadores de sua bagagem).  Participou ativamente do cerco ao Quilombo dos Palmares, sendo um dos responsáveis pela morte de  Zumbí dos Palmares.

            Paro por aqui. Desejo homenagear os índios, nesse 19 de Abril de 2022 e desejar-lhes progresso em suas aldeias. Que não se conformem com as “bolsas miséria” e a exploração turística, especialmente com as exposições de nudez de suas jovens, incentivando o turismo sexual nos eventos “folclóricos”! Que aceitem as novas ofertas do Governo, para que utilizem suas terras para o manejo racional de suas riquezas, com a assistência técnica especializada necessária e com os insumos para a produção de alimentos.

            Que suas “reservas” se transformem em celeiros, na produção de alimentos para as tribos e para todo o Brasil, na comercialização desses produtos! Já não vivem mesmo da caça e pesca e de seus deslocamentos nômades. Já estão familiarizados com a energia elétrica, uso de motores, veículos, lanchas motorizadas, motocicletas, smartphones, celulares de última geração, televisão, Internet e viagens aéreas.

            Não são mais “inimputáveis” (aliás, jamais foram...) e têm que ser guiados e disciplinados pelo mesmo sistema de leis da Nação Brasileira. Só existe uma “nação” no Brasil, e é a Nação Brasileira, composta de todos os nativos e naturalizados que habitam nas terras do Brasil.  Em Direito, chama-se de imputabilidade penal a capacidade que tem a pessoa que praticou certo ato, definido como crime, de entender o que está fazendo e de poder determinar se, de acordo com esse entendimento, será ou não legalmente punida. Pois em relação aos índios aculturados, essa jurisprudência não se aplica!!! Todos, sem exceção, devem ter os seus direitos preservados, bem como os seus deveres. Se desfrutam e gozam dos direitos, igualmente devem obedecer e respeitar as leis vigentes. Mesmo porque já estão miscigenados com os demais povos das mais diversas etnias, estudam em suas escolas e universidades e moram nas grandes cidades e capitais. Inclusive muitos são pilotos de avião, condutores de veículos, professores, técnicos em informática e operadores de máquinas pesadas e tratores. Nada justifica a sua condição de “inimputáveis” e necessitados de leis diferenciadas e brandas! Que conquistem, no seu dia-a-dia, as mesmas coisas a que todos têm o direito e a justa reivindicação! Assim, já que saíram das selvas e florestas para o mundo dos “civilizados”, andem lado a lado e contribuam para o progresso e para o bem comum.

Manaus – AM, 19/04/2022

Pr. Sérgio Aparecido Dias

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