(Uma homenagem – quase um plágio - ao estilo de Millôr Fernandes)
CRÔNICA DE: Sérgio Aparecido Dias
(...e de quem mais poderia ser?)
Qualquer dia desses eu expludo! Não consigo fazer-me entender! Estarei falando grego ou coisa parecida? Noutro dia, por exemplo, à mesa, enquanto cortava a língua com a faca ( refiro-me à língua de vaca, ensopada ), meu filho fez-me uma pergunta embaraçosa. Matei-o com um sopapo certeiro ( falo do mosquito que pousou no meu garfo ). Era sobre educação sexual. Fiquei meio sem jeito, procurando a melhor maneira de responder. Nesse momento, minha mulher vinha trazendo a sopa e eu acertei-lhe um chute no traseiro ( refiro-me ao gato que estava debaixo da mesa ). Como duas cabeças pensam melhor que uma, resolvemos ensiná-lo como se deve fazer a coisa direito ( falo da maneira correta de se utilizar o guardanapo ). Tentei explicar, enquanto o atirava ao cesto de lixo ( refiro-me ao guardanapo usado ) :
- “ Não existem cegonhas, filho! Lembra-se da cadela da sua avó?
( eu me referia à cadela de estimação );
pois bem, todos nascemos assim!”
- “ Daquela cadela papai? ”
- “ Não, não, meu filho; das outras! ” ( eu me referia às outras mães ).
A essas alturas eu estava suando frio e, minha esposa, nervosamente, mordia a perna ( estou me referindo à perna do frango ).
- “ Quer dizer que eu saí da mamãe? ”
- ” Sim meu filho; e foi maravilhoso, apesar do mau cheiro”
- (eu me referia ao banheiro da enfermaria). “Nunca me esqueço, filho:
- o movimento do hospital, bebês prá lá e prá cá, aquela correria toda, você sor-
rindo e aqueles dentes de ouro que cintilavam à luz ( eu falava dos dentes do médico )! São coisas, meu filho, que eu nunca esquecerei,! ”
Minha mulher me olhava com os olhos arregalados e eu salpiquei-lhes pimenta do reino
( falo das rodelas de tomate da salada ).
- “ Ora querida - resmunguei - , um dia ele terá de saber dessas coisas
- e nem todos explicam de maneira clara! ”
E continuo pensando a mesma coisa: falta, hoje em dia, a clareza de expressão, as pessoas encontram uma certa dificuldade em articular claramente os seus pensamentos e as suas idéias! Daí as grandes confusões e os inevitáveis conflitos. Ao guarda que me parou outro dia na estrada, por exemplo, eu fui bastante claro e disse:
- “ Estou indo socorrer a minha mãe, seu guarda! Tenho de tirar
o balde que enganchou em suas patas, pois ela não pára de dar coices
( eu me referia à vaca da fazenda )! ”
O guarda olhou para mim, retirou o lápis e o caderno de multas e comeu, mastigando tranqüilamente ( estou falando da maçã que ele trazia consigo ). Fiquei irritado ao vê-lo urinar no pneu do meu carro ( refiro-me ao cachorro que passava por alí ) e gritei:
- “ Sai daí, seu cachorro sarnento!!! ”
- “ Isso é comigo? ” - rugiu o guarda.
- “ Não, não, claro seu guarda! É com o outro alí ” - e apontei o cão.
Tudo terminaria bem, se o guarda tivesse me compreendido. Mas ele resolveu trazer-me à delegacia. É de onde escrevo agora, com o caderno sobre os joelhos, mascando as folhas ( refiro-me às folhas da laranjeira, próxima à minha cela ). Nunca entenderei as outras pessoas! Que disse eu de errado? Que foi que eu fiz? Até agora fico sem saber se foi a Sociedade Protetora dos Animais que me denunciou, ou se foi o Sindicato dos Distribuidores de Leite. Talvez tenha sido o Sindicato. Mas Deus é minha testemunha de que eu tentei chegar a tempo.
F I M (Sim, porque já acabou!!!)
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